segunda-feira, 22 de março de 2010

Relato de mãe aflita

Essa profissão de médico alterna momentos alegres (quando se chega ao diagnóstico e a cura de um doente); de apreensão (quando se tem dificuldades para chegar ao diagnóstico e ao tratamento indicado); de sofrimento (quando o doente ou alguém a ele ligado relata o motivo de uma doença).
Esse último ítem chegou a mim, hoje (22), cerca de !7:30 horas, quando uma senhora aparentando 50 anos de idade trouxe um filho para consultar e no seu decorrer, relatou-me o sofrimento do filho mais velho, que está sem sensiblidade da cintura para baixo, vítima de assalto em seu comércio, na periferia de Macapá.
Conta a senhora que o rapaz fora ao banco, dias atrás, para sacar R$ 3 mil.
Ele fez a operação e em seguida, voltou à sua loja. Sem perceber, foi seguido por dois ladrões montados numa motocicleta.
Pois bem. Ao chegar ao seu comércio foi logo abordado pelo ladrão que de arma em punho (revolver) lhe ameaçou: - passa do dinheiro, cara.
Ele surpreso, imaginando ser brincadeira, repondeu ao bandido: - que dinheiro, não tenho dinheiro, rapaz.
E aproveitando um descuido do ladrão, empurrou-o e correu para dentro do seu estabelecimento, aí, o marginal disparou sua arma, indo a bala atingir-lhe o corpo, um pouco abaixo do pescoço, na região torácica, provocando-lhe lesões no circuito neuronal da região, produzindo-lhe perda da sensibilidade abaixo da cintura.
O rapaz não controla a urina nem as fezes, muito menos sustenta-se de pés. O projetil lesou-lhe o tecido nervoso, sem contudo, romper-lhe a medula. Haja sofrimento dessa mãe.
Cheio de esperança e animado pelos seu neurologista, o rapaz seguirá para Brasília, onde no hospital Sara Kubistcheck, será submetido ao tratamento indicado, com possiblidades de retomar a vida normal. Que assim seja!
Ela viajará acompanhando o primogênito, deixando aqui o mais jovem (17 anos) que terá de se cuidar, enquanto durar o tratamento do irmão, estipulado em 6 meses.
São os dramas que o médico se envolve por ser a sua profissão eminentemente humanista, apesar de uns poucos tentarem transformá-la num mero comércio.
Claro que estou torcendo pelo restabelecimento do rapaz que se arrepende tanto de não ter dado todo o dinheiro ao ladrão.
Infelizmente a vida é assim mesmo. Diante de um momento como esse o melhor a fazer é entregar tudo ao bandido e salvar a própria pele.
Não tem como ter polícia em todos os quadrantes do país. A violência cresce assustadoramente, de diferentes maneiras, ceifando vidas preciosas que sucumbem diariamente nesse país.
Leonai Garcia

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