Acabaram com o Instituto Ofir Loiola. Que coisa! Quem lê o noticiário da imprensa paraense e conhece a história desse complexo hospitalar fica atônito, posso até dizer - bestificado, com a notícia.
Conheço o Ofir Loiola desde o meu tempo de garoto de Belém do Pará. Portanto, posso falar desse assunto que entristece e preocupa os paraenses. Depois, o frequentei como estudante de medicina, a partir do 3º ano.
A emoção foi grande quando ultrapassei o portão principal do Hospital do Servidor, pela primeira vez. Um sonho se realizava. Comecei a me sentir médico.
Nascido e crescido no Telégrafo, sempre ouvi falar muito bem dessa casa de saúde, orgulho dos paraenses. Um hospital de tratamento de Câncer.
Terceiranista, fui admitido na equipe do cirurgião cárdio-vascular Dr. Almir José de Oliveira Gabriel, que depois viria a ser governador do Pará após passar por vários cargos importantes da administração pública.
Numa certa manhá de 1972, pelo elevador, cheguei ao 6º andar e me apresentei na sala de reuniões. Logo iniciaria a discussão sobre uma radiografia de tórax de um paciente que seria submetido a uma cirurgia do pulmão.
Presentes os médicos - Almir Gabriel (chefe da equipe), Nilo Almeida, Paulo Toscano, Maria de Lourdes, André Vale (falecido), mais, o academico sextanista Benedito Pauxis, e os quintanistas, Ricardo Vale e Luis Abilio, fechando a raia, os novatos - Leonai, Paulo Afonso e Luiz Alves.
Inesquecível. Hospital de prédio imponente, de frente para a avenida Independência, parte do Ofir Loiola, e dirigido pelo médico Jean Chicre Miguel Bitar, apoiado por: João Emilio Macedo, Otávio Lobo, Domingos Viana, Walter Moura, Fernando Jordão, e outros especalistas famosos, cancerologistas, uns, falecidos, outros, aposentados, hoje em dia.
Vivi naquele ambiente respirando ciência médica do 3º ao 6º ano. Cheguei a passar 24 horas dentro do hospital como plantonista. Ano novo, natal, carnaval, férias de julho, enfim, foi muita dedicação. Saí de lá para vir para o Amapá, prontinho para trabalhar.
Nosso serviço operava todas as patologias cirúrgicas do tórax: Coração, pulmão, esôfago, e doenças do mediastino. O Instituo Ofir Loiola era referencia para a região norte na cancerologia.
Tínhamos cirurgia de ponta, quimioterapia, radioterapia (cobalto), enfim, tudo o que de moderno existia no mundo em termos de tratamento de cancer. O povo do Pará se orgulhava do Ofir Loiola. Bons tempos.
Agora, a derrota: "Governo exporta pacientes com cancer". Que vergonha! "Com a quebra geral dos equipamentos no Hospital Ofir Loiola para realizar radioterapia e braquiterapia, alem dos aparelhos simuladores desses tratamentos a SESPA vai indicar 100 pacientes para fazer tratamento no Piauí, Maranhão e Tocantins".
Pergunta-se: E os outros doentes. O que fazer com os outros doentes. Estão condenados a morte? Só pode. É a conclusão.
Quem são ou quem foram os responsáveis pela situação do Instituto Ofir Loiola? Onde está o Ministério Público? O povo do Pará tem de cobrar das suas autoridades uma solução para esse caso.
Quem adoecer de cancer no norte e não tiver condições de ir para outros centros está condenado a morte, afinal, o tratamento dessa doença exige velocidade na administração dos medicamentos indicados.
Como médico lamento profundamente a situação da saúde do nosso país. O presidente Lula é pródigo em distribuir bolsa disso, bolsa daquilo, bolsa daquilo outro, mas não tem responsabilidade com a saúde da população, apesar disso, surfa em ondas benfazejas de popularidade, coisa típica de país subdesenvolvido.
Fonte: Jornal O Liberal - edição de 9 de Agosto de 2009
Leonai Garcia
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